quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A fé mora onde a razão cochila .



Sentou-se naqueles velhos bancos de Igreja.
Olhava para os lados e ouvia cantos,
Mas, paradoxalmente, nada ouvia.
Ouvia o que diziam que ali ouviam,
Mas, febril, nada ouvia.

Ela sabe que há esferas param além dos caminhos físicos.
E subiu um pouco, respirou,
e quis respirar mais do lado de fora
do que de dentro...
Ela olhou para mim e disse:
 - Sou apenas eu?! Você não se perturba na ideia de que apenas uma parte dos homens recebeu a revelação divina e toda a maioria está para ser lançada ao inferno que o mesmo Deus criou!?

Eu diria algo, mas meu coração lancetado gritou mais alto o silêncio...

 - Vou lá fora. Podem me chamar do que quiserem,mas preciso respirar..

Quando ela fala: “Vou lá fora”, ela está dizendo: “Vou sair da Igreja”
Ela sempre achou que seria, O mundo, diviso em:
o Mundo de fora: cheio de armadilhas
e
o Mundo de dentro: cheio de tarefas e missões.

Sentiu aromas bons em ambos os mundos.
E quis saber o porquê daqueles gritos de proibições primeiros.
Mas até hoje, quando torna por alguns lugares do mundo de dentro, ela vê os mesmos berros,
Mas, hoje, já nada significam para ela...
Para alguns ainda, estranhamente, tanto significam!

A distância e o véu:
entre o signo e o significado...
Longo deserto!

Para aqueles do mundo de dentro, aqueles eram decálogos infalíveis,
deveriam ser aplicados SEMPRE: numa quase pena de Talião divina..

Aqueles decálogos pétreos?!
Só podem ter sido gravados em corações de pedras...
Muito pesados para um coração humano, bobo, "de carne"...
Devem ter derivado, à deriva do amor, de algum desejo de subir ao céu usando as costas dos homens, de vários deles...

E agora, o que fazer?!
Criar um "ser" ideal pisando nas costas dos homens e fingindo um ar de anjo?!

Escapar?!
Não!
Combater mesmo!
Nos ensinaram a guerrear!
Tínhamos as armaduras de Paulo (Ef6)
Tínhamos a vigilância de Cristo..
Linguagem assim mesmo: militar!
No “mundo espiritual” como soldados.
Na terra como ovelhas!
Vá entender como partiu sua alma para incorporar estes extremos..
O que hoje temos?!
As armaduras soam tão agressivas...
A vigilância tão desconfiada...

O que temos hoje?!
O que temos no hoje!?
O que somos hoje?!
O que somos no hoje?!

Onde estão as tábuas de regras dos primeiros dias?!
Se desfizeram com o pó do tempo?!
Bateram com as marés dos dias e não subsistiram. 
Ou, na verdade, nunca (ex)istiram..

Debilitaram nos conceitos?!
ou
Eram eles mesmos os débeis!?

Mas, e como a menina ficou?!
Ela era como náufraga.
A ensinaram que naquelas pedras estava a sua tábua de salvação..
E lá estava ela agarrada à elas!
Era preocupante vê-la orar e MUITO para que aquelas pedras servissem de bote salva-vidas - mas, quanto mais ela orava, mais afundava...

E ela ousou soltar-se um pouco..
Confiou que Deus não a fez numa bolha
Que não deveria abandonar o Jardim pelo Jardineiro – quem leu o gênesis que entenda!
O Jardineiro e o criado, conciliados, habitando no Jardim da vida...

A verdade!?
Ela ainda quer redesenhar o mundo: sem dividi-lo de forma maniqueísta.
Como é difícil desfazer-se de algo há anos digerido:
que costume de cabresto o nosso!
Ainda sente uma angústia de que talvez seja mesmo aquele sistema ilógico o certo e a fé talvez seja aquele embrutecimento primeiro...
Um pausa?!
Será isto!?
Pausa para quê?
Ela diz que quer mais que isso, quer conhecer a Deus mais ainda,
quer ainda fazer suas orações e ler a Bíblia
mas ainda sente o gosto acre dos dizeres do mundo de dentro a lhe martelar!

eis a ânsia!
eis a angústia!
os dogmas que se tornam espinhos na carne - a encravar maiores dores!
dores em nome de Deus!
E que cruz Ele ainda nos vê carregar: as interpretações que aqui fazem!


Parece que O sentido quando imposto obstrui a beleza de todo o resto.
Por isso ela nada quer impelir.
Apenas falou-me de seu desejo de expelir o que antes soava como cantilena de anjos e hoje faz barulho de insanos - barulhos insanos...

Aonde vais, menina!?
 - Onde morar a Fé e a Razão..
Naquela casa barulhenta...
Que teimo em querer dominar...
Chamada: meu coração....

É, ela tinha razão.
E fé também!
A fé mora onde a razão cochila – 
e cochila não porque a fé requeira o embrutecimento da razão...
mas porque a razão precisa de descanso - deslumbramento
a razão cochila onde achou repouso
onde se abriga como que num milagre silencioso - inexplicável... 
Milagre este de viver equilibrando-se
Na corda bamba dos dias
...

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